“Quem elegeu a busca, não pode recusar a travessia.”
— João Guimarães Rosa

No campo da Psicologia, chamamos de travessia as pequenas ou grandes crises que fazem parte do nosso desenvolvimento humano. São momentos de ruptura, dúvida e transformação que, quando bem vividos, tornam-se pontes para um novo estágio de consciência e maturidade.
Existem travessias humanas bem conhecidas e inerentes à experiência de viver: a passagem da infância para a adolescência, da adolescência para a vida adulta, da meia-idade para a velhice. Também vivenciamos travessias mais individuais — o término de um relacionamento, uma mudança profissional, ou o início de uma nova fase que se impõe.
Seja uma travessia marcada pelo tempo externo ou por movimentos internos, ela pode nos conduzir a momentos de crise e desequilíbrio.
Mas será que toda travessia precisa vir acompanhada de uma crise?
A palavra travessia vem do latim transversus, que significa atravessar algo: um mar, uma região, um estado. No contexto terapêutico, representa o processo de se lançar ao desconhecido, encarar medos, rever padrões e abrir espaço para novas formas de existir.
Sendo assim, podemos dizer que, sim, toda travessia traz consigo certa dose de crise — pois nos retira de um espaço conhecido e nos lança a um novo território, incerto e sem garantias.
A frase do navegador Amir Klink — “A beleza de navegar é não poder escapar do caminho” — ilustra com sensibilidade esse processo.
Cada pessoa percorre seu próprio caminho, enfrenta seus entraves e reconhece seus limites. Mas é a aceitação — e a responsabilidade de assumir esse caminho — que nos permite apreciar também a beleza da jornada.
Ao aceitarmos a travessia com leveza e simplicidade, reconhecemos que a crise pode ser um convite: olhar para dentro, ressignificar, transformar e, sobretudo, crescer. Sem as crises, raramente nos lançaríamos ao novo.

Por: Cláudia S. Ribeiro do Valle
Caminhante de várias travessias — e agora, vivendo a travessia de me permitir ser quem sou.
Vivendo a crise da meia-idade, questionando o que é realmente essencial…
E me perguntando com honestidade e alegria : ‘O que, de fato, vim fazer aqui?